16 de ago. de 2014

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Nada acontece por acaso. Nenhuma pessoa entra em nossa vida à toa e nenhuma decisão que tomamos é inteiramente por conta própria. Há influência, há motivos e um propósito maior. Seria negligência e egoísmo da minha parte negar tudo isso. Hoje, mais do que em qualquer outro dia da minha vida, minha consciência elevou-se e meu agradecimento a oportunidade que me foi dada de recomeçar não só uma, mas duas vezes nessa vida, multiplicou-se e tomou conta de toda minha existência, presente e futura.
Depois de anos acompanhada de um mal-estar, depois de inúmeras tentativas previamente fadadas ao erro - somente eu não percebia isso e negava qualquer ajuda que me oferecessem-, eu precisei passar por um renascimento. Precisei sofrer tanto, mas tanto! A ponto de arriscar perder minha vida e mais: fazer sofrer quem me presenteou com ela juntamente a todos que por mim zelaram quando estive cega a ponto de feri-los, cada vez pior e constantemente. Depois de todo o sofrimento e angústia que causei, não só a mim mas aos outros, eu tive minha redenção... Primeiro comigo mesma e agora, devagar, com aqueles que a mim amaram e eu amei também.
Minha tentativa de suicídio não está nem perto de ser o começo da minha sequência de erros e ataques - mesmo que inconscientes - à todos a minha volta, tudo se construiu com o passar dos anos, através de mentiras, de ostracismo, de rancor e uma necessidade imensurável de sentir-me amada. Parece irônico, ferir aos outros para receber amor... e é. Não só irônico, como tosco, sórdido. Foi esse o caminho que trilhei embora não me lembre quando exatamente eu tenha dado o primeiro passo... e mesmo quando nele caminhava não percebia o motivo, nem sequer o questionava, salvo rápidos momentos de lucidez. Neguei insistentemente todo o amor que me foi dado, todo o zelo da minha mãe e irmã, principalmente. Neguei o quanto meu companheiro a mim amava e estimava, o quanto se esforçou e se doou por mim. Hoje vejo o quanto eu, egoísta, tomei dos outros que se dispunham a estar ao meu lado. Sei que todo esse comportamento destrutivo vem já se edificando há anos, mas volto a pontuar meu atentado pois foi o ápice da minha maldade e sordidez. Fui vil, perniciosa e sobretudo ingrata. Mereci cada pontada de dor, cada lágrima que eu mesma inconsciente me causei... Como é a lei da vida eu não poderia ter saído ilesa: perdi a confiança daqueles próximos a mim; a capacidade de aceitar e aproveitar momentos felizes; perdi quem amava e amo;  perdi incontáveis momentos amorosos com minha família e comigo mesma. Não sou mártir, mas sou a prova de que a vida é justa e não imutável. 
Tanto afligi aos outros e a mim mesma, tanto penei e no meio deste penar eu decidi mais uma vez recomeçar: vim para minha cidade natal onde me aguardava o minúsculo, porém preciosíssimo pedaço de papel que me faria olhar para trás com outros olhos, tomar um soco na cara da realidade. A descoberta desse papel foi a imersão da verdadeira Ana Vitória, subindo-me pelas entranhas até golpear-me os olhos com lágrimas e gritar dentro de mim, retomando as rédeas do corpo que a pertencia. Foi em Curitiba que encontrei uma carta, endereçada ao meu falecido avô, quem amei e amo de maneira indescritível e que não cabe ao momento e nem a esse texto, expressar. Foi esta carta que me trouxe à tona todos os meus erros, que fez-me questionar onde estava a menina que a escreveu e porque não cumpri com tudo o que ali estava escrito, uma vez que eu sei de todo o coração que nem mesmo uma vírgula foi desprovida de verdade. Toda e cada letra foram escritos com o amor mais puro que existe... Então onde estive? Eu, quem as escreveu, esses anos todos? Fui justamente o oposto: nociva, melancólica e amarga. Tomei a liberdade de ferir, quase que de morte, todos que por mim zelaram desde o meu primeiro choro, no meu nascimento... Obriguei minha irmã, a ver-me ensanguentada, rasgada, torpe. Não lhe dei a oportunidade de escolher presenciar algo tão horrível como o sangue de alguém que se ama... O fiz com quem me acompanhava, e o fiz tão cega, tomada de tanto egoísmo que não deixei nem mesmo que me ajudassem... Mais uma vez, lá estava eu, negando todo o amor que me era oferecido. Mais uma vez, causando dor em todos que, irredutíveis, mantinham-se ao meu lado. Hoje revivo não só a noite em que me tornei a maior vilã da minha estória, mas todo o percurso até ela, com os olhos e a cabeça doendo... Mas com a sensação de redenção, de perdão e sobretudo do amor que sempre busquei... Esteve aqui o tempo todo, soterrado junto com a menina que dedicou-se a escrever ao avô doente. Amei sim, pura e intensamente a TODOS... Fui amada sim, fui MUITO amada... Neguei e testei incansavelmente até que a justiça veio a mim e me fez sentir o peso das minhas ações. Reconheço toda a dor e o sofrimento que causei a todos e confesso que HOJE, dia 16 de agosto de 2014, eu sofro muito mais ao sentir tudo isso sendo puxado garganta a fora, ao vomitar minhas próprias verdades e conseguir tirar de dentro de mim todo o amor que neguei a mim e sobretudo à minha família.

Depois de anos, eu disse espontanea e verdadeiramente, que a amo, mãe. Repetiria o quanto te fosse preciso, para apagar toda a decepção, a dor e as mentiras. Disse e repetiria o quanto te fosse preciso, que te amo, Maria Luiza... Que sinto muito a nossa distância, que eu gostaria de entrar na sua cabeça e arrancar o cenário que te obriguei a registrar.  
Salvo um pequeno pedaço desse texto para mais uma vez, e mais verdadeiramente do que qualquer outra, pedir perdão a você, João Pedro, que foi constantemente magoado, esgotado e ferido por mim... Hoje mais que nunca eu percebo a dimensão do seu amor e dedicação a mim, e percebo que nunca terei nem mesmo uma vaga ideia, do quanto você suportou até que bastasse. Sou imensamente grata e doída por dentro... você tem razão quando diz o quanto é um ser humano maravilhoso. De todos nessa trama, você era o único que poderia se desamarrar e seguir sem grandes consequências, você não tinha obrigação de ficar e ficou, dormiu comigo naquele leito de hospital e eu não consigo nem imaginar o que passou pela sua cabeça enquanto dormíamos. Mas ficou. Nada vai mudar o quanto eu aprecio a sua força, a sua insistência e heroísmo. Você partiu com razão mas, até do último segundo em que ficou, eu sinto a mais pura admiração e respeito, pela pessoa que você é e pelo que fez por mim. 

Hoje eu fiz as pazes comigo mesma... Pela primeira vez de verdade. Hoje eu me permiti amar e ser amada, eu vejo que sim, meu passado é sujo e feio, mas o meu futuro  pode ser mudado e que mesmo que demore, eu e eu sozinha, sofrerei as reais consequências dos meus atos. Agradeço com toda a honestidade deste mundo, que meu ataque a mim mesma não tenha sido letal, que eu ainda esteja viva, respirando... Tendo a oportunidade de aprender, de viver e assumir todo o amor que existe e existiu na minha vida...

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