31 de ago. de 2014

A ponte

Cruzei uma ponte na tarde de ontem
Cruzei os pés em passos largos, fáceis
E amansei-me no som dos instrumentos
E entreguei-me na sombra das árvores

Juntei minha voz à voz da mãe terra
Banhada em raio morno do pai sol
Ri assim, de mansinho, risada terna

Nem tom maior que é bem clichê
Nem mesmo menor, um tanto deprê
Rimos todos juntos,  um riso bemol

30 de ago. de 2014

Já de noitinha

Hoje tudo me vem versado
Vem autêntico, já compassado
Vou te dedicar mais uma vírgula 
Rachar o piso do seu castelo
Abalar sua pose míngua
Você diz com todas as sílabas:
Dei-xa a fe-li-ci-da-de entrar!
Mas eu o busco toda braços e língua
Você insiste em desconversar
E eu tô aqui, no miudinho
Rezando baixinho, rangendo teu nome
Pra você me lembrar

Poema para quando você voltar

Já sinto-me calma porém não mansa
Quisera eu não fosse assim
Abraçar a desventurança
Para ver-me só no fim

Quero assistir da enseada
Ficar na praia, estatelada
Olhos trincados
A boca em linha
Plateia inerte
Do desancorar da paixão minha

E quando o sol se acovardar
Quando a areia derreter
Meus pés tornarão a girar
Rumando ao cais para te receber



Versos Engatilhados

Trago com força, sentindo um soco no peito
Defumada em êxtase, quero lamber o cigarro
Embebida em desânimo eu recordo teu nome
Assim que percorre minha língua o expurgo em escarro

Destilei desgosto toda uma vida
Cabe-me nos olhos a velhice de mil anos
Repara, amado, tem rancor no gosto da minha saliva

Mais um trago, agora o último
Cheiro de fluído e a alma envolta em massa sórdida
O vejo reger meu corpo de cima, no púlpito
Quisera eu não deseja-lo de tal forma mórbida.

Na aula de geometria

Não vejo meio de aparar estas arestas
Amolecer os cotovelos
Pender minguante em festa
Divago entre os vértices do depois
Rola a esfera, o tempo, rolo eu
Só não rola nos dois.

28 de ago. de 2014

Tarot

Puxa a carta e escolhe outra
Arranja com cuidado na mesa e vira
Vira que é pra esculhambar
Com toda essa instabilidade escrota
Misturada com esse ensaio de pulso na veia rota

Vira o veredicto que eu tô concentrada, eu acredito
Eu tô emanando desespero! tô na duvida!
Não sei se dou de corno igual carneiro
Ou se emudeço, pratico o desapego!

Tá na mesa, ta escancarada a previsão
Tá me fitando de volta, sacana aparição
Tem morte, tem rainha e tem conflito
Tem eu nos entre-naipes, carteada

Exposta, virada, junto dos maiores arcanos
Desvendando os meus dilemas desarmada.

Fugere Omni

Acordei um tico mais bonita, de pele lisa, com a cara limpa
Meu cabelo menos amassado que o de costume
Acordei fácil, um tanto mole, mais pra lá do que pra cá
Levantei ansiando meu fone de ouvidos, meu tênis e uma trilha
Quis sair sem rumo, trilhando o caminho que me vier à telha
Assim, à toa, mesmo... Sem ter data certa para regresso
Sair de mansinho, sem pressa
Levar comigo meu maço de cigarros e uma breja

Acordei um tico mais velha, de mente lisa, com a cara aberta
Meus olhos já caídos embora bem abertos
Os outros me envelheceram, já os anos me embelezaram
Levantei com dificuldade, querendo enrolar os lençóis em um nó
Desses de forca, e passar no pescoço só pra sentir o baque
Só para fugir um pouco da realidade
Acordei já vestindo os sapatos, o dia é longo e pesado
Há que se cumprir a que se veio.

27 de ago. de 2014

Apelo

Eu tô doída, embasbacada
Meu bem me diz por quê continuar?
Por que você se acomoda
Nesse bem bom que é meu amar?

Eu tô no chão, estatelada
De peito aberto na encruzilhada
Pedindo ajuda, "vai Maria Padilha!"
Gira e vai dizer que eu tô cansada

Eu tô balbuciando, afônica
Tô tentando gritar no teu ouvido
Com seu desentendimento atônita
Quero um sinalizador de avião

Que é pra gesticular na tua cara
Que eu tô me entregando
Que eu tô pronta
Que eu tô na tua mão
Me leva, me pega, não me maltrata, não.

Tchau, amor.

Chega amor, tô me desfazendo
Tô correndo pra longe
Procurando aconchego

Que me serve paixão assim?
Eu tô pendurando a caneta
Saindo meio muda e de miudinho
Pra ver se assim pensa em mim

Se lho digo que gosto faz graça
Se lho roubo um beijo disfarça

Chega amor, tô indo embora
Tá pinicando essa espera
Na esperança de cessar sua demora

Que me serve querer assim?
Querer de longe, sem ter pra mim?
Eu tô dizendo tchau, meu querido
Esperando que se arrependa e venha caminhar comigo.

Só as loucas, as ovelhas negras, as libertárias e libertinas!

Na Jamaica carioca, perto do Pão de Açucar, residem as insanas
As que choram aos borbotões e se derramam nas palavras
As que amam com gosto a noite inteira,
As que se desfizeram das raízes, são sozinhas, ovelhas negras

De coração vermelho pulsante, de punho erguido: avante!
Com as pernas abertas, na mão carregam uma caneca
Até a boca cheia de prazeres, de debates em comoção
Mães de filhos, de ideias, de ideais e de poemas

E seguem letrando as curvas de seus próprios corpos
Se desfazendo em rascunhos, se reerguendo em noitadas
Há de se cantar, há de se dançar na chuva, há de se embebedar
De vinho, de poesia ou de... permita-me dizer de LIBERDADE!

São fortes, as ninfas jamaicanas, do jardim universitário
Sofrem, amam, cansam, comem, fumam
Pra amanha acordar de novo, pra ler Marx de novo
Pra fazer revolução.

Dedicado à Sylvia Alves, à Dannie Machado e à sensualíssima Pretinha!

Solidão Fluída

Meu dote reside na perspectiva
Na letra corrida
Na profundidade das minhas águas
Aparentemente calmas

Tá faltando alguém pra me mergulhar em apnéia
Tô esperando alguém pra visitar os meus recifes de corais
Porque as vezes eu canto no chuveiro
E canto bem, até

Mas qual a graça se não há pra quem cantar?
Eu já cansei de me ouvir
Eu já tô saturada de ficar aqui boiando
À deriva, esperançosa, no meu mar.
Vem me navegar...  Tão sozinha me sinto.

Tesão Etílico

Da última vez que te vi entornei o caneco
E o fizemos juntos como dois sãos cansados
Com fome de loucura e fritura de boteco

A realidade torpe nos entristece e é visível
Como o álcool pouco a pouco nos amolece
Você sorriu e a vontade do seu beijo me tomou, invencível

Balancei na cadeira como quem pende embriagado
O beberia como o último gole desse copo de cerveja
Vejo nos gestos que embora genuíno meu beijo seria negado

Reclino, bebo mais, rio contigo
Do seu sorriso
Do nosso papo
Do seu bigode

Volto pra casa, deito na cama
De saco cheio
De vontade reprimida
De porre

Desde a última vez que te vi eu só penso em entornar o caneco
Em passar mal e embrulhar o estômago de tanto beber sua saliva
De toma-lo nos braços e ceder à essa gana
Te beijar fora do sonho, te rasgar com as unhas
Te embebedar e te levar pra cama
Mostrar como é o sexo apaixonado da mulher ariana.



Metacriação


Não sei criar por criar, Bilac não me representa.
Não gosto de regras para organizar minhas palavras
Não sigo uma linha de pensamento
A linha não tem o som da letra
Não dá a chance de voltar atrás
Sempre reta, sempre em frente
Não gosto de linhas
Eu crio porque preciso e porque sinto
Porque me habita o incontível 
Que quando pode sai no verso ou no grito
Escrevo porque a cabeça ferve e os dedos tremem
Eu tremo o tempo todo desde sempre sem motivo
Mas eu sei por quê eu escrevo
Escrevo para montar o jarro quebrado com remendos de sílabas
Às quais vez ou outra concedo vida própria
Elas dançam e conforme se arranjam dizem o indizível 
Mudam o imutável, quebram o indestrutível
É por isso que escrevo
Porque no verso 
Eu desafio a física 
Eu desafio a Academia
Eu desafio a mim
Eu desafio a escrita
Eu escrevo para não esquecer do que faço ao escrever.

21 de ago. de 2014

Par de fogo

Apertei o play acendendo um cigarro, um dos muitos que desejei ter acendido ao seu lado. Na nossa noite faltou-me o maço e também o ar. Quis tragar na atmosfera do teu quarto qualquer coisa que sustentasse meu corpo ariano, e que me mantivesse ali,  debaixo do teu sorriso leonino. Por momentos não respirei, por outros até demais... Contida em um par de mãos ávidas de fogo, contracenando um beijo puro de mesmo elemento.
 A música ainda estava tocando quando inconscientemente pintei a cena atrás dos olhos:
- PÁRA, PÁRA!!!!!!
...Que eu tô sensível! Que eu preciso fumar! Que eu preciso de ar! Que eu esqueci como se faz para respirar! Que está tocando Snowmine e nem paramos para escutar!

17 de ago. de 2014

No fim vesti você

Abri as portas do guarda-roupa improvisado
Nele há de tudo um pouco e quase tudo preto
Penso que agora já é pouco até o ter ao lado

Faço as contas em um silêncio inquieto
Afasto cabides e ensaio diálogos
Hoje eu o quis dormindo por perto

Há no fundo da gaveta aquela sua camiseta branca
Que acidentalmente eu manchei mês passado
Mas ela continua comigo e lhe vou ser franca
Vesti às pressas seu presente e o tecido me caiu pesado

Senti a impaciência tomando conta e o peito apertado
Quero logo vestir mais que suas roupas
O quero amassando meu cabelo em um colchão improvisado
Me acordando com um bom dia e um sorriso de lado

Percebi que a noite seria longa porque
Entre tantas outras opções 
Hoje eu vesti você.

16 de ago. de 2014

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Nada acontece por acaso. Nenhuma pessoa entra em nossa vida à toa e nenhuma decisão que tomamos é inteiramente por conta própria. Há influência, há motivos e um propósito maior. Seria negligência e egoísmo da minha parte negar tudo isso. Hoje, mais do que em qualquer outro dia da minha vida, minha consciência elevou-se e meu agradecimento a oportunidade que me foi dada de recomeçar não só uma, mas duas vezes nessa vida, multiplicou-se e tomou conta de toda minha existência, presente e futura.
Depois de anos acompanhada de um mal-estar, depois de inúmeras tentativas previamente fadadas ao erro - somente eu não percebia isso e negava qualquer ajuda que me oferecessem-, eu precisei passar por um renascimento. Precisei sofrer tanto, mas tanto! A ponto de arriscar perder minha vida e mais: fazer sofrer quem me presenteou com ela juntamente a todos que por mim zelaram quando estive cega a ponto de feri-los, cada vez pior e constantemente. Depois de todo o sofrimento e angústia que causei, não só a mim mas aos outros, eu tive minha redenção... Primeiro comigo mesma e agora, devagar, com aqueles que a mim amaram e eu amei também.
Minha tentativa de suicídio não está nem perto de ser o começo da minha sequência de erros e ataques - mesmo que inconscientes - à todos a minha volta, tudo se construiu com o passar dos anos, através de mentiras, de ostracismo, de rancor e uma necessidade imensurável de sentir-me amada. Parece irônico, ferir aos outros para receber amor... e é. Não só irônico, como tosco, sórdido. Foi esse o caminho que trilhei embora não me lembre quando exatamente eu tenha dado o primeiro passo... e mesmo quando nele caminhava não percebia o motivo, nem sequer o questionava, salvo rápidos momentos de lucidez. Neguei insistentemente todo o amor que me foi dado, todo o zelo da minha mãe e irmã, principalmente. Neguei o quanto meu companheiro a mim amava e estimava, o quanto se esforçou e se doou por mim. Hoje vejo o quanto eu, egoísta, tomei dos outros que se dispunham a estar ao meu lado. Sei que todo esse comportamento destrutivo vem já se edificando há anos, mas volto a pontuar meu atentado pois foi o ápice da minha maldade e sordidez. Fui vil, perniciosa e sobretudo ingrata. Mereci cada pontada de dor, cada lágrima que eu mesma inconsciente me causei... Como é a lei da vida eu não poderia ter saído ilesa: perdi a confiança daqueles próximos a mim; a capacidade de aceitar e aproveitar momentos felizes; perdi quem amava e amo;  perdi incontáveis momentos amorosos com minha família e comigo mesma. Não sou mártir, mas sou a prova de que a vida é justa e não imutável. 
Tanto afligi aos outros e a mim mesma, tanto penei e no meio deste penar eu decidi mais uma vez recomeçar: vim para minha cidade natal onde me aguardava o minúsculo, porém preciosíssimo pedaço de papel que me faria olhar para trás com outros olhos, tomar um soco na cara da realidade. A descoberta desse papel foi a imersão da verdadeira Ana Vitória, subindo-me pelas entranhas até golpear-me os olhos com lágrimas e gritar dentro de mim, retomando as rédeas do corpo que a pertencia. Foi em Curitiba que encontrei uma carta, endereçada ao meu falecido avô, quem amei e amo de maneira indescritível e que não cabe ao momento e nem a esse texto, expressar. Foi esta carta que me trouxe à tona todos os meus erros, que fez-me questionar onde estava a menina que a escreveu e porque não cumpri com tudo o que ali estava escrito, uma vez que eu sei de todo o coração que nem mesmo uma vírgula foi desprovida de verdade. Toda e cada letra foram escritos com o amor mais puro que existe... Então onde estive? Eu, quem as escreveu, esses anos todos? Fui justamente o oposto: nociva, melancólica e amarga. Tomei a liberdade de ferir, quase que de morte, todos que por mim zelaram desde o meu primeiro choro, no meu nascimento... Obriguei minha irmã, a ver-me ensanguentada, rasgada, torpe. Não lhe dei a oportunidade de escolher presenciar algo tão horrível como o sangue de alguém que se ama... O fiz com quem me acompanhava, e o fiz tão cega, tomada de tanto egoísmo que não deixei nem mesmo que me ajudassem... Mais uma vez, lá estava eu, negando todo o amor que me era oferecido. Mais uma vez, causando dor em todos que, irredutíveis, mantinham-se ao meu lado. Hoje revivo não só a noite em que me tornei a maior vilã da minha estória, mas todo o percurso até ela, com os olhos e a cabeça doendo... Mas com a sensação de redenção, de perdão e sobretudo do amor que sempre busquei... Esteve aqui o tempo todo, soterrado junto com a menina que dedicou-se a escrever ao avô doente. Amei sim, pura e intensamente a TODOS... Fui amada sim, fui MUITO amada... Neguei e testei incansavelmente até que a justiça veio a mim e me fez sentir o peso das minhas ações. Reconheço toda a dor e o sofrimento que causei a todos e confesso que HOJE, dia 16 de agosto de 2014, eu sofro muito mais ao sentir tudo isso sendo puxado garganta a fora, ao vomitar minhas próprias verdades e conseguir tirar de dentro de mim todo o amor que neguei a mim e sobretudo à minha família.

Depois de anos, eu disse espontanea e verdadeiramente, que a amo, mãe. Repetiria o quanto te fosse preciso, para apagar toda a decepção, a dor e as mentiras. Disse e repetiria o quanto te fosse preciso, que te amo, Maria Luiza... Que sinto muito a nossa distância, que eu gostaria de entrar na sua cabeça e arrancar o cenário que te obriguei a registrar.  
Salvo um pequeno pedaço desse texto para mais uma vez, e mais verdadeiramente do que qualquer outra, pedir perdão a você, João Pedro, que foi constantemente magoado, esgotado e ferido por mim... Hoje mais que nunca eu percebo a dimensão do seu amor e dedicação a mim, e percebo que nunca terei nem mesmo uma vaga ideia, do quanto você suportou até que bastasse. Sou imensamente grata e doída por dentro... você tem razão quando diz o quanto é um ser humano maravilhoso. De todos nessa trama, você era o único que poderia se desamarrar e seguir sem grandes consequências, você não tinha obrigação de ficar e ficou, dormiu comigo naquele leito de hospital e eu não consigo nem imaginar o que passou pela sua cabeça enquanto dormíamos. Mas ficou. Nada vai mudar o quanto eu aprecio a sua força, a sua insistência e heroísmo. Você partiu com razão mas, até do último segundo em que ficou, eu sinto a mais pura admiração e respeito, pela pessoa que você é e pelo que fez por mim. 

Hoje eu fiz as pazes comigo mesma... Pela primeira vez de verdade. Hoje eu me permiti amar e ser amada, eu vejo que sim, meu passado é sujo e feio, mas o meu futuro  pode ser mudado e que mesmo que demore, eu e eu sozinha, sofrerei as reais consequências dos meus atos. Agradeço com toda a honestidade deste mundo, que meu ataque a mim mesma não tenha sido letal, que eu ainda esteja viva, respirando... Tendo a oportunidade de aprender, de viver e assumir todo o amor que existe e existiu na minha vida...

15 de ago. de 2014

Para os meus reis

Tenho a mania insolente de me nomear rainha quando estou confortável. É quase como se em um lugar específico e em um momento único eu me sinta bem o suficiente para me despir de tudo o que me foi colocado no dia do meu nascimento e me adjetivar como bem entenda. Gosto de ser rainha e gosto ainda mais de quem compactua comigo nesse faz-de-conta.
Tanto brinquei de rainha que os súditos por mim antes nomeados hoje o fazem por si só, é como se soubessem que vestindo-me de rainha o meu mundo fica melhor e, voluntários, lembram-me de como é bom ter um lugar para ser feliz e o que se quiser ser.  É nesses momentos em que minha alma ulula declarações de amor veladas a estes amigos que me recebem sempre sorrindo e lembrando-me que sou amada e querida.
Nomeei dois reis. Não! Não por ser ariana e gostar do poder e da dominação e ser naturalmente insaciável, não... Esse é outro ponto que influencia muito menos nesse aspecto. A questão é que meus dois reis diferem-se no trato - e no tato:
 O primeiro, presente já há quase uma década na minha vida, é quem constantemente prostra-se imponente ao meu lado, capaz de defender-me de um exército de pessoas sozinho, se eu lho pedisse. É meu escudeiro: Travou inúmeras batalhas contra diversos inimigos, alguns reais, outros da minha cabeça. Foi este meu rei que, sentado à direita do meu trono, ergueu-me incontáveis vezes e fez por merecer seu posto vitalício, dividindo o reino comigo e aconselhando-me sempre que preciso.
O segundo, apossou-se recentemente de um pedaço de terra próximo ao palácio real e vagarosamente,  aproximou-se de mim se fazendo Pierrot. Ri por horas seguidas na companhia desse meu rei que desinibido chegou como se fosse visita conhecida, fazendo ecoar no palácio risos estridentes de todos meus súditos e meus também. Chegou manso e notável, calmo e contagiante. Antítese pura, esse rei! Ganhou meu carinho como poucos fizeram e após várias reuniões no salão real, decidi que o queria, agora no lado esquerdo, do meu trono... Esse também me protege, mas é do frio, pela manhã e do medo, durante a noite. Ele é o rei que me põe no colo, beija meus ombros, me faz carinho até que eu adormeça e ri... ri de tudo ao meu lado. É meu Rei Terno, meu Rei Carinho.
Todos os dois essenciais para a manutenção da minha existência como rainha nessa fantasia mas, acima de tudo, imprescindíveis para a felicidade dessa que, desprovida de coroa, lhes escreve.

Kaique, meu rei número um e Savi, meu rei de número dois... Para vocês todo o amor do mundo, dessa rainha mimada e chorosa que está contando os dias para matar as saudades!

PS.: Eu canto no chuveiro e sempre lembro de você.


12 de ago. de 2014

Poema de Sete Anátemas

Quando eu nasci, um boçal com voz de radialista
Desses efusivos que tudo tornam mais intenso
Disse: Vai, Ana! Ser zicada na vida.

E as casas nunca me foram aconchegantes;
E eu espiei homens - que eu quis - irem atrás de outras mulheres - que não eu;
E nunca gostei de dias azuis tampouco realizei metade dos meus desejos.
Vai, Ana! Rir da desgraça que te acompanha.

E o coletivo cheio de pernas, braços e cheiro de desodorante;
E o motorista correndo e o cobrador no telefone e eu?
E eu lá, né? Perguntando para que tanto perrengue, meu Deus
Porém meus olhos não perdiam nada - cheio de gente feliz à minha volta
Ouço no fundo o radialista: Vai, Ana! Dar o pão e receber migalhas.

O homem - o boçal narrando minha vida - é irreverente e insensível
Quase não deixa escapar um escorregão meu que já aponta lá de cima:
Vai, Ana! Vai ter raros, pouquíssimos amigos.
Sempre ouço ao fundo o riso jocoso do radialista.

Meu Deus, por que diabos ele não me abandona?
Se sabe que no dia dos meus anos já fui fadada ao erro
Se sabe que cada passo meu é uma piada para a plateia que me rodeia
Vai, Ana! Vai cagada mas vai!

Mundo mundo vasto mundo
Se agarrasse o radialista pelo rabo e o puxasse pra baixo
Seria mais um pedaço do espetáculo e não uma solução
Porque eu sei bem o que ele diria:
Vai, Ana! Diverte-nos mais!

Eu não devia te dizer
Mas essa zica
Mas esse narrador que acompanha minha vida
Botam o tal do anjo torto do Drummond no chinelo.




11 de ago. de 2014

Convexa: Virtual, direita, cada vez menor.


No meu tripé há letras e canções
Há vírgulas, ditongos e rabiscos
Minha imagem se faz em parágrafos
As suas em frames
Eu demonstro letra fluída
Você lê tudo imagem estática
Eu te coloco no centro do quadro e transcrevo
Você enquadra o mundo e eterniza
Abaixa um pouco a câmera, porra
Corre os olhos nesses versos
Muda a perspectiva
Vem te ver como o vejo! Por que 'cê tá cada vez menor?!
Por que cê tá cada vez mais longe quando eu olho pelo lado de cá da lente?!



Eles

Ela era zippo e ele fósforo
Ela era carvão e ele marca-texto
Ela era lisérgica e ele era monocromático

Ele era planos e ela desejo
Ele era marola e ela arrebentação
Ele era sabedoria e ela era gracejo

Ela era bunda e ele peito
Ela era pimenta e ele sal
Ela era empirismo e ele era tese

Ele era terra e ela fogo
Ele era mercúrio e ela éter
Ele era monarquia e ela era anarquia

Você era ele e ela eu
Eu era nós e você adeus.

Romance Ideal

Eu queria um amor desses em que a palavra amor não precisa ser dita; onde não existam pronomes possessivos e que me chame pelo nome frequentemente. Eu queria um amor com quem debater as minhas dúvidas mais bobas, dançar Stones na varanda e para quem mostrar as imitações que eu treino sozinha mas não exibo para ninguém.
Eu queria um amor desses que hoje quase não vejo, em que há admiração e respeito; onde há discussões e pés que tímidos se reconciliam embaixo dos cobertores; Um amor em que eu possa pedir para ficar sozinha e pedir companhia; que eu possa explorar e extrair até a última gota de aprendizado que nele possevelmente reside... Eu queria um amor sublime, sereno e reconfortante mas, sobretudo, eu queria um amor constante por mim mesma.

Inutlia Truncat

Acredito no poder das segundas-feiras: são dias que representam um recomeço, tal qual a virada de ano. Uma nova semana se inicia e, com um pouco de esforço, vê-se intrincado a ela a possibilidade de um restart.
Na segunda feira que marca o dia de hoje, levantei e ao colocar-me de pé percebi-me assim: com o rosto, pés e mãos inchados; com picadas de mosquito cobrindo meu corpo todo; dois irritantes quilogramas a mais na balança e um raciocínio mais lento que o de costume.  Resultados de dois dias que reservei para esquecer que no mundo há cobranças, que a sobriedade é uma mal necessário, que comida engorda e que eu preciso ingressar em uma universidade. Olhei-me firme, com ar autoritário e caricato, impus:
- Hoje vai mudar! Hoje começa minha dieta detox!
 Fui juntando um resquício ou outro pelo dia. Conforme os minutos passavam um ou outro detalhe saltava a vista e eu selecionava com cuidado e a frieza necessária. Tantos momentos, palavras e gestos passaram-me pela cabeça que julguei impossível a tarefa de reorganizar essa mente sórdida em um só dia! Foi-me claro que talvez fossem necessárias duas ou mais segundas-feiras - bem longas! - para que eu conseguisse separar o trigo do joio e enxergar com nitidez todo o lodo que engloba minha rotina e meus hábitos. Por vezes eu quis desistir e ceder mas preciso fazer jus à tatuagem que carimbei nas costas: disciplina! ou então no peito: perseverança!
Insistente, vasculhei cada uma das prateleiras e baús no porão da alma, refiz alguns remendos, lustrei alguns móveis já antigos e outros empilhei em algum canto por lá... Revivi situações, senti na ponta da língua gostos e peles e relevos, fechei os olhos para sentir melhor e por alguns minutos senti-me assim:  Sommelier de Lembranças. Poderia fazê-lo para sempre mas foi então que fitei de soslaio a pilha nefasta no canto do cômodo...
Por fim, com a suavidade de um Viking, arremessei todos os detritos pela janela! Defenestrei o mal que me assombra! Desfiz-me de tudo o que é torpe, tudo que dói, desintoxiquei enfim!! Comecei a dieta e sinto que comecei bem... Olha só: hoje nem mesmo mensagem de bom dia eu lhe enviei!!

7 de ago. de 2014

Eu não peço licença: chego arrombando a porta

Meu bem eu sou ariana! Regida pelo primeiro signo do zodíaco, a que inicia, a que rege, dá vida e sentido. Já vim predestinada a abrir caminhos, a rasgar a linha entre os planos e o exercício. Tomo a dianteira, sou cabeceira de tropa, contaminada pelo impulso do primeiro passo - sempre impulsiva!
Sou toda chama, toda emoção. Signo de fogo em alma colérica dá nisso que lhe escreve! Sou vontade, desejo, desespero! Me joguei e me envolvi, vesti anseio e grito entre dentes que o quero! Quero agora, quero aqui!  Dentro da minha roupa e embaixo da minha pele!
Meu bem eu sou ariana! Eu não sei não ter o que quero!

https://www.youtube.com/watch?v=iIqqcjMzavM

6 de ago. de 2014

Curriculum

Me dá uma caneta, que é pr'esse peso da alma, com palavras e versos, eu poder arrancar. Me dá tua mão, me dá seus pensamentos, dá cada uma de suas palavras, que é pra nelas eu me aconchegar. Pensando bem, me dá só um pouco, desse sossego que carregas por dentro, dexa teu sorriso me acompanhar.
-
É um explícito convite a esse moço que, receio,
É capaz de fazer-me mostrar um a um meus limites.
Eu que sou timoneira me inclino a ancorar-me nele
E confesso: em momentos vacilo.
-
Com ele tudo era música
Cabelo desarrumado
A boca feita em um bico
Cedi um sopro de desejo sustenido
Compus com ele um beijo
Tamanha nossa harmonia
O mundo girou sinfonia
Tudo era música.
-
Agarrei cada pedaço de sensação que vi pela frente e como se em uma fagocitose emocional, os roubei para mim. A vida sempre me foi assim: tudo intenso, tudo imenso! Ou tudo ou nada, se te amo te dou meu mundo e se lhe odeio lhe tenho asco… Quando feliz uma tocha flamejante e quando triste um dilúvio, viro então a rainha da menisquência, monocromática.
-
Eu te quero sem roupa e sem pudor, no meio da minha casa. No centro de todas as minhas paredes e pensamentos. Eu te quero sem limites, sem anseios nem boas maneiras, te quero cru.
Eu sei que o que eu procuro está aí dentro, e não importa os empecilhos, eu vou continuar cavando até encontrar e sentir o que eu quero sentir...
-
Faço amor bem feito, faço até mais tarde. Faço de todo e qualquer jeito, com todo tipo de corpo, com todo tipo de sexo. Faço e gosto, aproveito. Exploro todo e cada canto, do corpo e da alma… cada sensação um novo tesouro que faço questão de guardar.
-
Meu apreço agora é sereno, não mais ardente nem tão ávido. Meu amor tornou-se tranquilo. Mais do que nunca sinto que pertenço de fato à algum lugar e, esse lugar, nada mais é do que minha própria vida tendo meu amor como meu cúmplice e metade de tudo que eu me torno. Meu amor também já não é mais egoísta, não te quero para mim, eu só nos quero bem.
-
Rasguei um sorriso no rosto hoje cedo para você
Foi preciso rasgar a boca mesmo porque eu dormi puta
Virei de costas e caí em um sono forçado
Mas de que adianta se eu acordo, seu chato,
E te vejo do lado!? Me vem essa gana escrota
De te acordar e te xingar por não ter me acordado
...Por não ter me aporrinhado.
Daí é que eu nem mais me importo com a treta ou teu sono
Te abraço! Aquele abraço torto, digno de formigar meu braço
Filho da puta, te amo tanto e nem sei dizer
Mas parece que de manhã todo o nhenhenhém me invade
Não me seguro e eu sorrio, te abraço e te cheiro
Espero de verdade que nem dê pra perceber
Mas rasguei um sorriso hoje cedo para você.
-
Não posso te prometer que essa será a última barra pela qual teremos que passar, mas posso prometer dar o melhor de mim a cada segundo, posso prometer prender a minha respiração e te apertar com toda a minha força para que a gente esqueça dos problemas por alguns segundos.
-
Em um piscar de olhos o momento sumiu, fugiu de mim. Tudo o que pude fazer foi descruzar os braços, jogar as costas contra a parede e observar: Todo o meu viver me abandonando, serelepe e distraído... Sem nem perceber que fiquei pra trás..
-
Faz parte, não?! Todo esse tango social em volta do que somos e não somos, o que mostramos ou não mostramos. Minhas sensações continentais são puro continente da minha essência, bombas atômicas que ao fragmentarem-se reconstroem-se em cima do todo que vacila sempre na hora de separar-se em partes.Faz parte essa confusão em cima do que penso, de tudo que sou.
-
Lembra quando doía separar tuas mãos das minhas?
Nossas mãos se separaram por tanto tempo
Até que então a dor virou o consolo

E no chão do quarto onde me espalhei eu vejo
Com os olhos borrados por entre lágrimasEspalhadas cada uma das palavras
Que hesitei dizer quando me olhando nos olhos
Da tua partida eminente falava.

-
Só queria chacoalhar-te dos pés a cabeça perguntando por que, e que essas duas palavras ecoassem incessantes no teu ser até que pudesses abrir a boca e baforar nem que fosse um só motivo plausível, que me fizesse crer que o que me dizes nessa hora é verdade e tudo o que me foi dito antes de nada vale. 
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Eu vou escrever uma história daquelas bem bonitas, vou dobrar o papel e guardar em uma caixa lacrada, a qual só você e eu conseguiremos abrir. Você vai ler e dizer que já sabe de tudo isso, então eu vou pegar o papel e queimá-lo na sua frente, pra te ver sangrar, pra você sentir como é bom quando lhe arrancam um pedaço da sua história.
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Mas o que dói realmente, não é o fato de que acabou, não. Um dia tudo acaba, e eu vivo bem com isso... O que machuca é lembrar da sensação, daquele fogo todo, e olhar pra baixo e ver as cinzas. A dor vem do riso, dos carinhos, da cumplicidade... Não dos momentos ruins, desses a gente sente raiva, ódio. A tristeza bate quando se lembra dos momentos bons. E a paixão nada mais é que isso, um mar de alegria e libido, que aos poucos seca
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Me deixa sozinha, na minha, nem uma palavra a mais. Me basta meus medos, minhas alegrias, minhas lembranças. Eu jurei nunca me odiar, odiando cada palavra da minha promessa. Agora segue teu caminho, e me deixa no meu canto a pensar, pinta teu mundo das cores que quiseres, eu sigo sozinha em uma batida descompassada, que é pra o mundo dos outros admirar.
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Abri meu castelo mórbido para tua presença morna e agora que já me deixaste a flama e partiu, tudo agora queima e meu castelo se desfaz em cinzas. Eu queimo e pereço junto dele e das memórias e, ironicamente, sou eu queimando um fósforo após o outro, querendo destruir todo e qualquer rastro do que já fomos nós.
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Abri, mais uma vez, a pele pra chorar... Chorar pelos olhos não basta, não expressa e não expurga o que me assoma... É um ato mórbido na tentativa de me acalmar, externar a intensidade da minha dor, de colocar de forma visível para o mundo e em especial para mim que ando cega, a dimensão do quanto sofro. Sangro não só sangue, mas sangro lágrimas, gritos, desespero, agonia.
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Pincelo um pouquinho de cor nesse meu mundo. Inebrio quinas e praças do meu além-corpo, me ausento da consciência pra que o farda não se faça presente em pesar.
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Em suma, como um palhaço, eu sigo jubilosa mas entornando o pranto aos borbotões.
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Mudo,reviro, desfaço
Gritando, calada na frente
De todos na praça
Mudo, mudei, mudarei...
A mudança que nem todos vêem
Mudança que só eu sei.

5 de ago. de 2014

Sorriso Velado

Sorriso de olhar apertado, linhas tênues desenham espaços que beijei escondido. Se escondo não sei ainda bem por quê, sei que o acordo é esconder. Tem falácia da juventude, tem gingado de moleque, destreza apertando o beck e um sorriso... mas um sorriso que me aperta o peito! Daqueles que chega rasgando barreiras, bochechas. Chega abrindo-me as pernas, o peito, a boca em um beijo.

Quando vejo teu sorriso não sei o que desejo beijar primeiro:
Os cantos dos olhos ou teu corpo inteiro!
Ele era vocalista em uma banda de rock 'n roll e quando cantava levava consigo meus olhos cedidos, compunha canções e repetia riffs enquanto ditava o meu batimento cardíaco... Com o tempo as canções foram sumindo, seu apreço partindo e foi aí que pude ver amiúde:
O seu canto era só dele, nada de meu restava ali.
Ele me obrigou a partir.
A alma.
Os passos.
A partida.


Hoje ele não canta, não toca, não nada. Só há silêncio aqui.