25 de out. de 2016

Mãe África

Caminho no cipó,
Suspensa no vento.
E rodopio destemida: giro, giro, giro
Na ponta dos pés
Com dedos ornados de jóias!
Minha coroa tem sete cores,
Que guiam as canelas
Ritmadas ao passo de Matamba.
Giro, giro, giro
Sem sair do lugar.
Mãe Santa Bárbara me empurra,
Aninha e nina
Sob os olhos ardentes, cautelosos
De meu querido pai Xangô.

A brisa me lambe a testa
E me lembra das terras
De meus avós.

É na beira do riacho
Que eu escorro os olhos.
Expulso o féu nas águas
Das minhas emoções.
Batizo meu corpo,
Morada pulsante da nascente doce
Do amor que vem d´Oxum.
A corredeira se enrola em meus dedos,
Lembrando que acima da lei
Existe o amor.
Ela quem traz no córrego flor,
É em quem afogo todo meu dissabor.

A espuma do rio me refresca o rosto
Lembra da paz lá em Aruanda,
Lembra da terra dos meus avós.

O caboclo me sopra ervas
E traz a peçonha que alerta
Dos males do caminho..
Que já não me enxergam:
Pois sou tutora do seu belo cocar.
A cobra que me enlaça a cintura,
É quem me guarda
No caminho da mata.
Debaixo das folhas,
Oxóssi deu vida pra terra,
E por cima das copas,
Ensinou os pássarinhos cantar.

E eles cantam pra mim,
Que é pra me lembrar do terreiro,
Das ervas, dos ventos, do fogo morno e a água
Da terra dos meus avós.



13 de set. de 2016

Você assassinou meu mal estar de Janeiro...
Veio cavaleiro de passo largo, certeiro.
E eu que salivava mágoa
Entornei protesto!
Vi-me sob tão conhecido
Fitar do cabresto
E disse: Ai, não!
Ai de mim que me julgava sóbria,
Sã...
E salva.

Eis então que meu rancor se esfarelou
Diante deste presente grego de Agosto:
Um sorriso meio de lado...
Amarelo.
Eu que não erro nunca engoli em seco:
O ranço encarde o tecido mais belo.

E disse: Ai, não!
Ai de mim que me achava lívida,
Sob o véu cinza de luto pós desventurança.
Hoje sim, com o cavaleiro ao lado,
Sã...
E salva. 
Ah, que estorvo...
Eis a face parva
Desta Palerma:
                    [Ave, Minerva!

Diz que diz que não diz nada;
Que somente sente e sonha...

Mercúrio, menino, se puder acuda!
Que do seu fruto a semente busco
E floreio a boca
                    [em prece aguda:

Permita-me o dom da palavra!
Ensina-me transmitir sem falar.

Baco, amigo! Deixa-me só!
A afta que arde
Faz flambar a língua
                    [esturricada, inútil pó!

Ofereço, feito potranca mansa,
A outra face.
Entorno adstringência,
O feu tártaro.

Gosto que é da rota uva,
Estopim do estapear augusto
                    [Em meu silêncio bárbaro



23 de ago. de 2016

Canção de ninar

Disparo lampejos alvos de desejo,
Perambulo inquieta nuvens acetinadas,
E sobrevôo intuições previamente pontuadas.

Na terra doída e calcada,
Perco-me no embaralhar das revoadas...
O som que retumba e acorda meu ser.
                 [Que seria eu sem o trovoar?
                             
Sou céu e não há tempestrade que me desague
Que chova, trovoe e relampeie...
Que o farfalar da justiça divina me embale...
A chuva, amigo, é canção de ninar
                 [Para um peito que arde.

Canção de ninar

Disparo lampejos alvos de desejo,
Perambulo inquieta nuvens acetinadas,
E sobrevôo intuições previamente pontuadas.

Na terra doída e calcada,
Perco-me no embaralhar das revoadas...
O som que retumba e acorda meu ser.
                 [Que seria eu sem o trovoar?
                             
Sou céu e não há tempestrade que me desague
Que chova, troveje e relampeie...
Que o farfalar da justiça divina me embale...
A chuva, amigo, é canção de ninar
                 [Para um peito que arde.

Retrato realista

Conheço-te  tanto
               [e tão pouco!
Eessa dança ambígua
eu me esvaio,
Desfaço-me,
Escorro em teu rio...
Que perene corre flúido e
Às vezes estagnado
                [Roto.

Diante da tua carapaça alegórica,
Eu me floreio inteira.
                 [Cínica!
Eu que na ponta da língua
Dancei o seu nome por vezes mil
Faço de ensaios e questões malabares.
Junto pontos em papilas
                 [que costuram frases.

E nada falo, só interajo.
Respondo, observo:
Ai de mim, que sou assim...
                  [Mero capacho!
Que fui e sou de pura boa vontade
                  [E bom grado.!

Eu que te enquadrei no centro do retrato
Hoje ainda curiosa remonto cacos
De moldura caprichosa.
                  [em que nos coloquei.

Não és nada que eu saiba,
Pois o que eu soube,
Certamente embelezei;

Também não és desconhecido,
Cada traço da sua essência,
Em um passado jubiloso pontuei.

2 de ago. de 2016

Venta vento, ventania.

Eu sou é filha do vento.
Pois veja bem: eu danço leve.
Perco-me no traço fino, o movimento
que manuseia a brisa breve!

Comando a tempestade que aniquila.
Feito Shiva, poderosa padeço
de males que não mundanos.
Cada espada cravada - mereço!

Beijada pelas monções de cura,
recomponho-me recolhida em justiça,
não só Shiva mas também Durga.
Redemoinho e fogo: leva essa catiça!

Chega Kali imponente batendo os pés!
Eu rodopio com uma flâmula
dançando em cada mão.
A Terra treme: Há de ir embora, todo malogro e revés!

Venta vento, ventania
Vento, raio e trovão
Yansã é minha mãe
Eu não temo nada, não.

Eparrei!



23 de jul. de 2016

Meu Rei Terno

Meu sorriso estatelado brilhante na cara          
Espelha o amor que emana da tua alma          
Que isso, menino, que só tu tens?                    
É ao teu lado que eu me rio toda,                    
Que me derreto, translúcida!                            
Tais vendo? Pois só tu me enxergas assim.      
Só por ti eu me ponho de guarda tão baixa,    
Rindo a toa uma risada aguda.                        
Minhas mãos se põe sozinhas no teu cabelo, tão fino...
E desde o dia primeiro eu sabia!
Sabia que eu não seria a mesma sem ti, menino!
Teu cabelo de criança é que acaricia minhas mãos...
E desde a noite primeira eu sabia!
Que meu riso e o teu abraço, eles são irmãos
Ai, que pessoa linda! Que riso bom! Que alegria!
A distância dói, né? Mas tão bom ter-te na minha vida..








12 de jul. de 2016

Doomed Lovers













A ti que não só conheceste o castelo, como nele habitas
Que sob quimeras rastejas, fraco
Que nas minhas veias pulsas,
Intacto
A ti que permeias a vida como quem vira o frasco
E soluças na sala de estar, ávido
Feito pararraio paranóico,
Lúcido
A ti que trazes a sordidez de mil botões da boa idade,
Que insone deslizaste sob minha pele,
Nos meus sonhos
Castelos
Revoadas
Flâmulas

A ti, companheiro de calvário
Um brinde!

Bebamos como nos dias de boa saúde;
De alegria compartilhada;
De júbilo roubado.
Bebamos o silêncio que nos habita
Pois a alma lívida hesita;
O beiço trêmulo não diz
Que o amor aqui não prospera!
Mas bebamos pois,
Eis então o enterro de nossa última quimera!
Eis o último canto de Fausto que a nós espera!

Trágico, lento, poético.

Brindemos com amor e nos enlacemos em sordidez.


25 de fev. de 2016

Tesão Etílico II

Bacardi Big Apple: era esse teu gosto.
Por mais que eu nunca te tenha tocado,
Sempre soube o teu toque...
Até o tecido da tua camiseta velha do Ramones,
Eu sentia.
Sabia com clareza teu gosto
Doce e enjoativo...
Embriagante.
Colocaria-me na ponta dos pés
E o sentiria ardente nos lábios,
Se os meus não já formigassem,
E as pernas bambas bordassem
Súplicas no chão do teu quarto.
Eu te olhava de soslaio, cambaleante,
A gengiva e dentes em êxtase:
A cada gole de Bacardi
Minha boca sentia mais o magnetismo da tua,
O frenesi do teu gosto...
Que eu nunca senti se não no copo.
E nessa orgia sensorial meus olhos pesados
Encontram os teus de ressaca
Escondidos, dissimulados,
Atrás das ondas do teu cabelo sujo.
E eu não te desejaria que não assim: Sujo.
Que não bêbado! Fedendo a Bacardi Big Apple,
Enjoantemente doce.
Eu te sentia na ponta da língua,
Causando-me a náusea do desejo mais forte e impuro,
Com gosto de álcool e derrota.
Covarde que sou!
Do meu corpo só os dedos te conheceram os lábios
Mas eu - ah!!! Eu sim sempre soube o teu gosto!
O teu cheiro asqueroso de ressaca de dia seguinte!
E amei-te.
Amei cada pedaço da tua nojeira
E da tua alma linda de artista...
Inebriada eu senti 
Cada vaporada quente do teu hálito...
Bacardi era o teu gosto,
E eu nunca mais bebi.


22 de fev. de 2016

Pela paz de Narciso

Estou em um chalé sob aquela janelinha;
Meu pé-de-broa apoiado no parapeito,
Aponta para a Noite Estrelada campo-grandense.
Sinto ainda cheiro da grama com orvalho na madrugada,
E o frio era como concreto
Preenchendo tudo que não fosse orgânico,
Ameaçando rachar tudo o que não tivesse calor próprio.
Lembra quantas vezes, já quase não rachou a nós?
Na pontinha do meu dedão uma constelação qualquer
Tu apontas e divagas sobre a vida lá fora:
No espaço, na consciência humana, no traço do teu desenho.
Abro os olhos e volto pro meu apartamento;
Em outra cidade, com bem menos estrelas à vista... tão fria quanto.
"Por quê?" Eu pergunto... "Por que essa viagem toda no tempo agora?"
Maldito Salvador Dalí que me caiu nas mãos hoje.

E caí em mim...

Mais vale o mimo que é lembrança das madrugadas no chalé,
Das conversas intermináveis e filosofias e admiração do meu pé;
Que a mágoa da tua tez rija e olhos cortantes.
Mais vale guardar nossos dias Caeiros,
Que maldizer a sombra de Mefistófeles por trás do nossos contrato.
Eu perdoo. Eu perdoo. Eu perdoo.














Dente de Leão

Cortei-te o caule já na base
Impedindo teu desabrochar
E tuas pétalas ao me ornarem
Caíam tão bem
Que meu gênio não as quis.

Eu sou quem aduba tua terra;
Não sei receber os frutos do plantio;
Eu sou quem aflita erra.
Onde havia flor hoje há só vazio.

Desculpa o vaso seco,
As raízes pútridas...
É que sem o sol não se vive
E eu sou a sombra,
A tesoura
Insensível.
Infértil:
A terra rota.

O Dente-de-Leão
Que morreu no meu jardim
Assassinei sem piedade!
Agora sem flor, sem caráter
Não digo nem que há saudade
Mas ranço ao que restou de mim.

24 de jan. de 2016

O primeiro.

Eu pedia: toca aquela música?
Você fazia bico...
Você pedia: perde essa barriga?
Eu, fechava o meu.

Hoje aquela música
Eu ainda ouço vez ou outra
E já não me aquece mais a alma,
Mas me aperta a boca do estômago.
Dói-me o terror da auto-crítica
Parida da tua língua insensível,
Que já nem me tocava.
Veneno por veneno
Eu nem precisava do seu.

"Perde esse peso.
Arruma essa cara.
Muda essa roupa.
Fala alguma coisa.
Não fale demais.
Queira mais sexo.
Mas não seja puta.
Você deveria emagrecer...
...Por que você nunca come?!"

Definhou por ti meu corpo
Que corpo por corpo
Esse nunca foi seu.

Eu pedia: toca aquela música?
Você preferia afinar o violão.
Você exigia: se mude inteira!
Eu aprendi afinar meu corpo então

Hoje aquela cobrança
Ainda me assombra vez ou outra
E já não rege mais minha vida,
Mas me torce as entranhas de raiva!
Deixei a semente do teu ranço
Tomar meu amor próprio
E germinar o desespero.
E ódio por ódio,
Eu nunca precisei do seu.

Hoje a minha boca expurga
Não só o que me nutre
Mas o hábito que criei
Na tentativa de me encaixar nos seus padrões
Porque nos seus braços, na hora de dormir
Você nunca fez questão de me encaixar.
Mas você dizia que me amava...
E amor, por amor,
Eu nunca precisei do seu.




_____________________________________

Ame seu corpo, ame a si mesma... Se está em um relacionamento abusivo, peça ajuda, livre-se disso. Você merece mais.




18 de jan. de 2016

33m de quarto enorme
Haicai certeira na cama
Sem você enquanto o mundo dorme

17 de jan. de 2016

Lençol

Ai que desgosto,
Me falta o rosto
Do meu querer objeto!
Eu peço: posso?
Deveras lindo,
Clarão divino!
Que coisa é essa
Que é o afeto?
Eu peço: posso?
Já mal arrisco
Sem ti, abismo!
Não tenho fôlego
Ao caminhar.
Eu quero, posso?
Preciso - e logo!
Sozinha nunca
Mais me deitar.

10 de jan. de 2016

Último Ato

Foste tu o sacrifício e não vês?
Que eu sinto, querido, teu ego
Esse teu mais precioso bem
Lá de longe ferido.
Escolho um partido e deixo-te
Assim aos poucos...
Deste jeito porco, desmerecido.
A sordidez que me estapeia a cara
É a que me consome 
Por não ter lavado a alma,
Por não ter dado a chance da calma
No revés da partida sem palavra.

Parado o leão no palco sem plateia,
Não há quem aplauda teu ar bravio.
Perdoa, lobinho, o sacrifício!
Admito covarde o partir da alcateia.
Tão cruel conceder só silêncio, vazio!
Eu que me orgulhava da integridade,
Recolho-me à podridão e ao ofício
Da confissão dos pecados:
Este antecipar, meu vício!
Que causa tanta dor e eu suplico:
Vês que foste tu o sacrifício?
Vês que fiz o feito pelo que sinto?
Se sim perdoa, lobinho!

Perdoa a auto-indulgência inescrupulosa
De esconder o rosto 
Diante da vergonha da inevitabilidade
De te inflamar com minha peçonha!
Sei que entendes o meu partir,
Que te dói meu não ser cautelosa
Com o que vieste a sentir.
Se entendes perdoa, pois o fiz
Com honestidade no coração!
Não me dói o sacrifício, vês?
Minha dor é o punhal no dorso do leão!









9 de jan. de 2016

Sinastria

Fluído sorriso teu na minha flâmula gargalhante
Infantil que sou me envolvo nos teus braços magros,
Verdes: somos jovens ainda
 Nossa liberdade conjunta queima
Como graveto seco, e fósforo ainda que tenro
Risca e alumia a trilha nesse bosque florido
Metade teus rios, simpatia líquida, envolvente.
Metade meu trovão, cortante, mortífero clarão
Pelas árvores soprado é teu carinho terno
Combústivel do meu afeto incendiário
Consumindo tudo em volta
Até cair na tuas águas
No teu fluído sorriso recebendo minha flámula gargalhante
Verdes: somos jovens ainda
Nossa liberdade conjunta queima:
Eu me resfrio na tua alma
Te aqueço com minha essência.