2 de mai. de 2014

Súplica em desabafo

Sempre que lembro do meu ensino médio, recordo com clareza de palestras de psicólogas acerca de problemas comuns nesse período complicado da vida - não que esteja menos, no meu caso. - e é com um asco que me recordo, em especial, daquelas sobre distúrbios alimentares.
Os mais comuns desse leque enorme de dificuldades com a comida e a alimentação são a Anorexia e a Bulimia, e em suas apresentações diziam sempre assim:
- A Anorexia consiste em um medo exagerado da comida e da privação dela, enquanto a Bulimia retrata um indvíduo que, culpado pela comida que ingeriu, vomita.
Olha, eu gostaria que fosse assim tão simples e quadradinho. Segue enfim, o meu desabafo:
Não sei com precisão quando o meu relacionamento com a comida tornou-se conturbado e angustiante, tenhosalgumas recordações, embora obscuras, das minhas primeiras restrições… Começou com o lanche da escola e logo depois eu pulava quantas refeições podia. Lembro-me de ir dormir com fome e de tomar litros de água para que meu estômago não suportasse nem um grão de arroz. Honestamente, bom seria se as coisas continuassem dessa maneira.
Visto que com essas pequenas mudanças em meus hábitos deram resultado, eu queria mais. Sentia-me no controle de pelo menos um pedaço pequeno, mas não pouco significativo da minha vida. Gostaria de narrar como as coisas evoluíram, ou até mesmo lembrar como foi para que eu mesma analisasse minha trajetória nesse caminho obscuro e doloroso.
Desse caminho eu infelizmente ainda não conheci o fim, eu estou em recuperação. Constantemente cedendo aos velhos hábitos e medos e mais uma vez, decidindo lutar esse monstro que durante muito tempo controlou grande parte da minha existência, afetando relações sociais, minha auto-estima, humor e saúde, tanto mental quando física. Por isso digo:
Não, não se parece nem um pouco com o que os psicólogos e palestrantes nos diziam. Esqueceram de mencionar os ataques de ansiedade perto das horas das refeições, as atordoantes restrições! Meu corpo doía de fome mas minha mente gritava que eu não merecia, que eu não tinha controle, que não era capaz ou boa o suficiente.
Disseram sequer, das compulsões: comer pratos e pratos de tudo o que se vê pela frente até o estômago doer, e claro, ver-se obrigada a colocar o que puder daquilo para fora e abusar do uso de laxantes em desespero diante da possibilidade do acúmulo dessas milhares de calorias. Sim, milhares. Em um "Binge" - termo usado para definir as compulsões alimentares -, devo ter consumido, em meu ápice, cerca de 9000 calorias em uma tarde.
Não nos avisaram, do pânico diante de um buffet, porque sua mente oscila entre não comer nada ou o mínimo possível para disfarçar, ou escolher justamente alimentos que sejam mais fáceis de vomitar e comer até passar mal - nada ia ficar "comigo" mesmo…
A vida social! Por que não falaram que um distúrbio desses faria com que alguém recusasse reunir-se com seus queridos pelo medo de se deparar com um coquetel calórico e/ou um ataque de pânico silencioso? Dos constrangedores comentários como "nunca te vejo comer". "porque você sempre vai ao banheiro depois que come?".
Citei aqui, pequenos círculos desse inferno que atinge 1 a cada 10 mulheres, 1 a cada 26 homens, dentre os quais, 10% morrerão em função de desequilibrios e mazelas de seus hábitos alimentares. Eu não quero fazer parte desses números, não mais. Acima de tudo, apavoro-me com a possibilidade de algum de meus conhecidos enfrentar essa batalha e de quantos mais passarão por isso.
Assim, é com o peito pesado que peço aos psicólogos, professores e qualquer outro profissional responsável e presente em especial nesse período da vida de um indivíduo, que estejam sempre alerta, que ofereçam apoio e sobre tudo informação. Não basta expor, é preciso alertar, prevenir e remediar.
Me ponho de prontidão a qualquer um que gostaria de conversar/desabafar sobre o assunto, não vacilo em dizer que me importo e que quero o melhor para todos e para mim. Mantenham-se fortes e não desistam diante de um relapso… Tente outra vez.

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