"Ela não vê, não sente que está preparando um veneno que vai aniquilar a ambos; e vou saborear com volúpia a taça em que ela me oferecer a ruína; de que me serve a bondade com que quase sempre me olha? …Quase sempre?"
Ah, Werther!
Eu o queria aqui pois sei que me entenderia como eu te entendi em cada vírgula do teu sofrimento. Veja bem, há cá esse rapaz que me olha com bondade, quase sempre; que a mim trata com doçura… quase sempre; que a mim encanta…. Então, quando vem a calhar, em mim pisa e eu, esmagada, opto por agir como se nada me acontecesse, olhar vazio no horizonte, um rastro de sorriso diabólico no canto da boca para disfarçar a testa franzindo, o grito de raiva contido.
Ah, meu amigo, no final são só dores! Chego a minha casa e arremesso-me na cama como quem se joga de um penhasco e me pergunto por quê me submeto a isso. Por quê?! Cerro os olhos tentando desconectar-me do sentimento de humilhação que me corrói. De que me serve a bondade com que quase sempre me trata? …Quase sempre?
Os Sofrimentos do Jovem Werther sempre foi meu livro favorito, de verdade. Perdi as contas de quantas vezes o reli e de quantas vezes o rabisquei, grifei, anexei notas pessoais. Desde as primeiras páginas senti uma conexão muito grande com esse amante dolorido, uma empatia instantânea.
Hoje nada mais sou do que o próprio.