23 de dez. de 2014

Naco Vivo

Chorei na estação central e quase me pus de joelhos
Pintei a cara de vermelho como mais tarde pintei a lâmina
Desaguei os olhos na frente dos seus olhos imóveis, petrificados

O meu rosto todo deformado
Como hoje eu me enxergo na sua ausência
O semblante caído como meu mundo diante das suas costas
Cada passo seu um punhal no meu peito
Lição de vida de gosto amargo

Naquele dia o céu do Rio de Janeiro chorou comigo
E o meu guarda-chuva eu entreguei à uma mulher qualquer
Quis juntar-me à água que caía e esvair em algum boeiro


O meu rosto deformado hoje
Amassado nas mãos que não seguram as suas
Molhado das lágrimas de um dia de abril de uma vida passada
Você foi embora e me levou junto um pedaço
Um naco da alma me foi arrancado

Vivo ainda o luto de um dia nebuloso do passado.

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