23 de dez. de 2014

Naco Vivo

Chorei na estação central e quase me pus de joelhos
Pintei a cara de vermelho como mais tarde pintei a lâmina
Desaguei os olhos na frente dos seus olhos imóveis, petrificados

O meu rosto todo deformado
Como hoje eu me enxergo na sua ausência
O semblante caído como meu mundo diante das suas costas
Cada passo seu um punhal no meu peito
Lição de vida de gosto amargo

Naquele dia o céu do Rio de Janeiro chorou comigo
E o meu guarda-chuva eu entreguei à uma mulher qualquer
Quis juntar-me à água que caía e esvair em algum boeiro


O meu rosto deformado hoje
Amassado nas mãos que não seguram as suas
Molhado das lágrimas de um dia de abril de uma vida passada
Você foi embora e me levou junto um pedaço
Um naco da alma me foi arrancado

Vivo ainda o luto de um dia nebuloso do passado.

O pranto no trago

O quarto impregnado de alcatrão me leva para a sala do meu apartamento
Você sentado sério no sofá à minha esquerda, eu estirada chupando fumaça
E nem lembro do que a gente falava, e nem lembro por quê perdera a graça
Olho para o cinzeiro entupido do seu cigarro de cravo que eu não suportava
Que quando volto da memória percebo me fazer tamanha falta

Andei centenas de quilômetros para poder fugir de todo rastro do passado
Mas basta o gosto do mingau de chocolate, basta o cheiro do meu cigarro
Para que eu retorne ao lugar que um dia foi seguro e também meu amparo
Teletransoprto-me para o nosso silêncio típico, um fim de dia útil qualquer
Percebo que até a ausência do teu toque e voz grave me preenche

Este meu novo aposento não tem nada de meu
O que me conforta, em momentos como o de agora
É que fora o cheiro de alcatrão, tampouco tem nada de seu.

Daqui a pouco é fevereiro

Daqui a pouco é fevereiro, mês de Carnaval
E eu ainda gozo quando penso nele
Logo logo meu declínio faz aniversário
E eu vou chorar meu erro como nada 

Daqui a pouco é fevereiro, aqui dentro vendaval
De lembrança, lamento e tesão
É dor, suor, apelo, gemido, súplica e amassos
Rodopiando no da minha história furacão

Logo chega fevereiro,
Vou viver 12 meses do meu sonho enterro
Mas assim que fecho os olhos e lembro
Mordo os lábios, a coluna feita em arco

Bem feito.


Carnaval da Sordidez

Se pudesse eu pararia a Linha Amarela
Esculpiria uma lágrima no rosto do Cristo
E silenciaria as ondas de Copacabana
Para dar voz ao meu pranto

Não obstante cobriria a Av. das Américas de rosas
E traria ao asfalto os batuques alegres dos morros
Faria chorar ainda mais aguda a cuíca na Praia Vermelha
Para expressar minha agonia

Nos cabos do Bondinho penduraria cartões em preces
Nos metrôs as próximas estações baldeação para nós dois
O arpoador mais afiado que nunca, entrando não no mar
Mas no coração doído no peito

Eu declararia aberto o maior carnaval da história do Rio de Janeiro
Para ecoar em todas as alamedas da lapa e escorrer de todo copo de cerveja
Que eu sinto muito
Que eu sinto tudo
Que eu sinto ainda.


Pun(pela)gente

Observo o retrato que guardei querido
Um dos poucos pontos do meu quarto colorido
Por mais azul que seja o céu ao fundo o vejo amarelo
E reluz nos meus olhos e ecoa pela alma toda cadente

Sinto por receber tanto e não poder retribuir
Dou pelo tanto que sinto e recebo também por sentir
Punge-me o peito não ser quem te dá o que me causa
E não sou eu que te transbordo a alegria que a mim comove

Tudo! o quarto, a visão e a aura... tudo cinza
O amarelo some, descolore o gosto no céu da boca
Uma agulha no centro de toda saturação, esvaindo vida
Sinto, sinto, sinto e só dói e entristece
Por não te proporcionar o que ao meu ver merece






21 de dez. de 2014

Lighthouse Letter


Where are you now that nights are dark and days even darker? Where are now when once again I cannot step out of the house and need a push through the door? Do you remember that day I thought the world would kill me and was terrified to leave? You just rushed me out, took me two blocks away from home as I begged to go back in. You pushed me further, as you always did. You were brave for the both of us, without me asking you to be. I miss you singing around the house as you cook and shower and clean and even when you just walk in. I miss you imitating my voice, my talk, my walk and way to ask for things. I even miss your shower routine. I miss not someone else but the one I chose to share life with. Tonight I didn't sleep and facing the dawn I can't help but remember how hard it was learning again to lie alone, and the way I didn't ever need my sleeping pills when you were with me. I've learned so much since we're apart, somethings new, somethings I'm not even close to being used to again, but i'm learning a bit here and there. You know, sometimes I cook eggs and wonder if in the future I will be able to do it without a glimpse of you... sometimes I get high alone and remember your first time getting stoned. I'm hurt by you up untill now, and I can't forget you saying some people are just right to kill themselves, I wonder if ever in your mind I was one of them. But I know I hurt you too, and I know I put you through way more you could bare and somehow I'm releaved you don't need to put up with me anymore. I can and I've been doing just fine alone... You've known barely all my sides and I can be as strong as needy, as fierce and adaptable as helpless. I need no one. In fact, I don't even need you. I just miss you. You played such a role in my life and now that you aren't in it, it feels like a part of me is lost, cause with you I shared everything. And I feel deeply sorry (literally, I can feel sorrow taking over) that the last months we were together mostly of what I could offer was my pain. But I know as well I brought some great things, and I fear maybe, hopefully just maybe, I won't ever ever be able to share so much of me with anyone else. You were the world barier, mostly mine. You were the well where I sank my trulest emotions, my biggest fears and doubts. I wonder if you are doing fine and that's just silly. If I can adapt to anything you can do it ten times faster. Everyday little things here and there remind me of you, and every thought of mine is a prayer, wishing you the best and apologizing once more for all the things you put up to. I hope sometimes you think of me too. It pierces my chest to admit I know and accept in this life our paths won't ever come to cross again. We ran out of sources, and we're both draines from each others lives. But I keep the memories, all the fun and intimacy, all the mutual caring and building something up together. I thank you, more than anything I just thank you. But right now what moves me to rush and write this down is that I miss you. Not someone, not even anyone, but you. And you, my lighthouse, deserve the prettiest world to bare if you'd like to, I do and always will, wish you the best in your path.


"The night is darker before the dawn
 Don't be afraid, I'll be right there behind you
".

10 de dez. de 2014

+1

Eu medi meu hábitos e anotei: escritora de boteco
Você, detalhista, mediu os rabiscos em meu braço 
Consagramos assim o prólogo da minha tragédia
- Vamos, eu e você, entornar o caneco?
Já torta eu dei as costas, embriagada de você e do chopp
Inspira
Expira
Inspira
Expira
Expurga
Para no final da noite tocar insolente os seus lábios tensos
Sumir sorrindo enxergando um esboço de sorriso seu 
Porque "Deal" é de acordo, é combinado, e o nosso foi
Poesificaria sua fotografia e prosaria o que eu só penso
E enclausurada entre paredes de versos e mais versos
Riscados à caneta eu observo um a um ganhando cor
Escrevo o que só acontece quando fecho os olhos
E o rumo do que escrevo se perde e eu deixo
Falava do prólogo e agora já cambaleio no epílogo
Do que como mulher eu quis e como mulher eu vi
E eu o vi ali naquela banco com o cabelo no rosto
O vi como a poetisa compulsiva que sou e exalo
Como a mulher regida por marte que quer e precisa
E urge e grita e aspira 
Inspira
Expira
Inspira
Expira
Inspira: Mais um, meu jovem… Mais um poema que é só seu

6 de dez. de 2014

8 deitado


Aos 15 anos eu sofri uma noite de 3
Agora 20 sofrendo um apagão de 3/4
Aos 15 eu pensei que não havia jeito
Mas aos 18 reergui-me, fiz remendos
Que duraram só 3 do infinito no plano
A vida é cíclica, eu sempre sofro por 2
Eu passei 3 anos sem luz ou lanterna
Outros 3 com sabor de fruta mordida
Talvez aos 20 sofra agora por eu + 10
Mesmo com dor eu passei dos 15 1x
Há de ter perseverança agora por 100
Porque dado um tempo, fica tudo bem