30 de nov. de 2014

No abismo - logo de manhã

É inestimável o dom que desenvolveste, não vês?
Até teu silêncio me negaceia com vilã maestria
Tão doce quanto amarga, essa ideia de te querer

Enquanto tua cabeça pende sonolenta ao lado
Escondo os olhos entre as mãos tremendo tensas
Olho pela janela enorme, para as árvores correndo 

Tal qual o momento de te ter corre incansável
Enquanto em pensamentos grito e peço e rezo
Para que haja silêncio e nos olhos a secura 

Que um dia aprendi tolerar em ti...
Era até mais fácil assim! 
Agora que me encostas e me sorri
Eu vejo-me beirando o fim!

Dançando na beira do abismo entre pensar e agir
Como o louco que nas cartas hoje de manhã abri.



29 de nov. de 2014

Na Rodoviária

Saí de perto pro meu vício indevassável e a cada tragada eu pensava em voltar, era hora da partida, voltaria em breve pra realidade. Por que então eu perdia 4 minutos preciosos chupando fumaça ao invés de só ficar quieta ao seu lado, naquele banco de rodoviária? Apaguei o cigarro na metade, na ansiedade de me colocar de novo perto do seu silêncio típico virginiano, dentro do qual você analisa tudo e todos. Caminhando de volta, tampei os ouvidos com os fones, na intenção de não parecer estar tão focada na sua presença, como eu sempre estou quando você está por perto, quando fazemos qualquer coisa juntos. No primeiro segundo em que te vi, com o cabelo enorme todo bagunçado tampando o rosto, a coluna irreverente dobrada e a brancura dos braços riscados, a música, aquela música que sempre me lembra a saudade que sinto quando estamos longe, começou a tocar. Os olhos marejaram e as mãos tremeram - um pouco mais… Foi isso, foi um segundo preenchido por um só acorde que me fez perceber com mais clareza que nunca: meu maior apreço é também meu maior algoz. Eu o amei por um segundo como nada na vida. 
Caminhei, foram 31 passos contados até sentar novamente ao seu lado,  até eu me recompor e parecer relaxada… Por dentro eu gritava o que jamais diria em voz alta, o que nego até agora, o que ao vê-lo jogado naquele banco me veio como um chute - com dois pés - no peito: Eu te amo, será?!

27 de nov. de 2014

Bonsuir

Os outros são absurdos ocasionais
Mas com o acaso só falta coragem
Porque se não chove, eu não durmo

Só com coragem, só com o tempo
Só com vontade, meu enfrentamento 
Enrolar a língua para pensar solta
Para pedir no silêncio o além roupa

E até quando chove eu não durmo
Todos sonhos arrastados na areia fina
Adivinhando todo som no meu ouvido
No ouvir atrás dos olhos tu vens vindo

Só com o tempo, terei coragem
Só com enfrentamento da minha vontade
Soltar a língua perante semblante enrolado
Pedir no silêncio para poder dormir 


21 de nov. de 2014

A porta da varanda

Lá fora chove e eu escancarei a porta da varanda
Era a porta ou a minha boca afinal
E se esta fosse a eleita, rasgaria-se em um grito
De inicio hesitante e então bestial

As gotas perante minha exaltação se poriam curvas
Gesto solidário às que me escapam
Como se buscando semelhante que não meu sangue
Que corre denso e de correr cansado

Lá fora chove e eu escancarei a alma na varanda.

Iconoclastia pós moderna

Saltarão aos olhos nossos feitos nos livros da prole que a nós segue
E papilas artísticas formigarão no estalar da língua ao dizer:

Que quebraram as regras
Que rasgaram as imagens
Que traíram os postulados!

Ecos nos vãos entre colunas que sustentam nossa geração engulhante
Bradarão uníssonos o riso que tardará preencher nossas enrugadas bocas:

E eram todos medíocres
E eram todos iguais
E causavam-nos espanto!

Brindaremos jocosos o alarde de nossa audácia fruto de presente inato
Obra minha e sua ornarão dos futuros verdadeiros rebeldes a parede do quarto

Porque não terá sido por ninguém
Porque não terá sido por ansear ser coisa qualquer
Porque só terá existido por ter sido nossa missão

Um brinde




Só porque eu deixei.

Aí você apareceu e tomou à força horas do meu dia
E eu deixei
Não bastante acabou por preencher minhas insônias frequentes
E eu deixei

Aí então eu percebi que já nem precisava pedir licença
Você caiu foi mesmo de cabeça em minha nova vida
E quando não chega de supetão derrubando a porta,
Sou eu quem ansiosa a deixa entreaberta na maciota
Pra sempre que você quiser poder entrar

Aí você destilou toda minha essência e a aprimorou
E eu deixei
Você desbravou todos os labirintos da minha complexidade
E eu deixei

Aí então eu vi que já era tarde e que estava feito
Confiei minha alma à você que só me faz o bem
Devota que sou entrego o riso que é teu por direito
E assisto, lamentando deveras no miudinho

Você me tomando nos braços e me colocando ao lado
Mas ao lado somente
Por que? Eu deixei.



20 de nov. de 2014

Como Dois Iguais

Um moço altivo
De andar arrastado
Deixou apertado
Seu coração

De olhar arisco
E fala nasalada
Partiu e deixou seus nervos
De aço no chão

Um moço meio gato
De feitio reservado
Que ao se ver exposto
Esconde-se e aperta de novo
Seu coração

Foi mistério e segredo e muito mais
Foi meticulosa brincadeira divina e muito mais
Encontrar seu oposto e serem iguais

Uma moça bonita
De olhar gateado
Abriu em pedaços
Seu coração

Uma alma agitada
De fala eloquente
Aos impulsos cadente ao vê-lo partir
Viu-se no chão

Esse moço planejamento
Essa moça execução
Separaram-se mas celebram distantes
Tal união

Foi mistério e segredo e muito mais
Foi meticulosa brincadeira divina e muito mais
Encontrarem seus opostos e serem dois animais iguais.

19 de nov. de 2014

Artista

Enxergo-te sensibilidade fora do comum
Enxergo-te lúcido, analisando tudo
Observando a todos, os braços, os olhos
E a tudo.

Grito-te silenciosa, ensaiando a caneta
No corpo branco cansado que porta os olhos
Que olham a todos, os braços, meus olhos
E tudo.

Disse e ainda cumpro a promessa
Vou te riscar de caneta preta permanente
Para que vejam todos: nos braços, nos olhos
Em tudo.

Por mais que fujas do que lhe foi dado
E que esquive os gestos ao perceber-se relaxado
Hão de saber todos: teus braços, teus olhos
Tudo

Exala o que eu já cansada repito vez após vez:
- ARTISTA! ÉS ARTISTA!

Através dos olhos dele

Quando vejo-me perdido gosto de olhar diretamente para o sol.
 Assim, sem medo. Sem mais, nem menos.
Observo apenas a bola de luz que em pouco tempo derrete-se sobre meus olhos, inundando todo meu viver com uma luz branca incorruptível e majestosa.
Por mais belo que seja este momento de luz eu o vivo justamente pelo momento que me punge a seguir: Ao rolar os olhos para qualquer outra direção o mundo veste-se de novas cores, move-se impecável! É nesta dança em câmera lenta que enxergo melhor as formas do que me cerca.
É assim, em poucos segundos, que sou capaz de ver além da luz do sol, vejo a luz na Terra, a luz que é minha e que é dela.
A vejo com a minha pupila ébria, inundada de luz, compondo a silhueta daquela que protejo e sei proteger-me também. 


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Obrigada pelo momento de inspiração, obrigada pela parte que me comove e me sustenta. 

16 de nov. de 2014

Poema de Whatsapp

Não dificulta nossa comunicação
Eu tô tentando te entender
Mas não consigo
Você tem que me ajudar
Eu juro pra você, Vitória: quero ser teu amigo.
Mas assim não dá
Nem sequer uma letra posso falar
Que você me interrompe pra reclamar
Eu juro pra você, Eli: que eu tento, tento mesmo
Mas você não coopera
Essa unilateralidade não leva a nada
Cansei! Vou ser Johnny Depp
Se ficar famoso... não me esquece?

Desculpa que eu desliguei no "Beijo"

Se não tiver graça, a gente inventa
 Se não tiver resposta, é um ukelele
   Se não tiver diálogo, a gente canta

    Tão bonito que chega ser grotesco
        Tão simples que chega ser imenso
          Tão instantâneo que supera o tempo
 Obrigada
                    Você que compõe minha calma
                Você que conhece a minha alma
             Você que nunca abaixa a guarda


       Eu que sou pequena e frágil
   Eu que sou amiúde vulnerável
Eu que forte nas suas palavras

 


                                                                                       

7 de nov. de 2014

6 de copas

Reviro os olhos ao ser tangida pela luz que acompanha os rastros do início, quando definimos os nossos significadores. A vida toda me vi regida pelo carneiro que me impulsionou e presenteou com o ímpeto do fogo e otimismo dos corajosos: nada me surpreende que me vi no naipe primeiro, já de de cara, assim sem rodeios.
Acontece que o 8 de paus define irônico tudo o que eu faço, dá um risinho cínico, a boca rasgando pra um lado sempre que me encara de volta da mesa, eu só concordo e emudeço a boca, emprestando a voz aos pensamentos efervescentes. Aflita sob o olhar do Mago, perdida entre as espadas nesse oceano imenso eu me volto para a Lua, me pergunto qual o motivo de meus freios! Para que então a escrotisse desse Mago quando questionado os meus anseios? 
Os olhos retornam à razão e de espadas cruzadas observo o Rio correr... Abri todos as tiragens e mostrei uma a uma, todas as minhas cartas; deixei ver toda minha vontade escancarada e agora, já metamorfoseada em cálice ansioso por ser empunhado, eu já não diferencio início do fim, o teu não do teu sim.