Os acordes de uma música qualquer me remetem
aos acordes que um dia eu combinei pra te cantar; a posição que me deito acaba
por lembrar-me de como eu deitava ao seu lado, do nosso encaixe excepcional;
Quando escovo os dentes lembro da sua escova sempre – sempre! – já gasta e do
quanto isso me incomodava; Me aventuro na cozinha e assim que uma gota é
derramada, ouço de longe sua risada jocosa...Há sempre um ou outro detalhe inflamável durante meu dia que vai trazê-lo nem que seja
por apenas alguns segundos para perto de
mim e eu, acuada, tenho a mais que rápida reação de chacoalhar a cabeça, apagar
aquela lembrança. Às vezes juro que consigo! Juro que se eu me imaginar
apertando o botão de “delete” assim que uma memória me assombra ela desaparece
para sempre... Amiúde, elas retornam. Ninguém me machuca... Será? Senti-me segura ao me mudar. Neste novo
apartamento, nestes novos móveis até pouco não tinha nada de teu. Era um novo
lugar, um recomeço. Agora não mais. Contaminaste até mesmo aqui, onde eu estava
salva. Cada canto desse quarto tem um pouco de ti: a fronha que um dia esteve
sob teu rosto agora arde ao encostar no meu; o chuveiro – meu canto preferido
no mundo – agora te tem sentado me encarando até mesmo quando estou sozinha.
Abri meu castelo mórbido para tua presença morna e agora que já me deixaste a
flama e partiu, tudo agora queima e meu castelo se desfaz em cinzas. Eu queimo
e pereço junto dele e das memórias e, ironicamente, sou eu queimando um fósforo
após o outro, querendo destruir todo e qualquer rastro do que já fomos nós.
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