24 de jan. de 2016

O primeiro.

Eu pedia: toca aquela música?
Você fazia bico...
Você pedia: perde essa barriga?
Eu, fechava o meu.

Hoje aquela música
Eu ainda ouço vez ou outra
E já não me aquece mais a alma,
Mas me aperta a boca do estômago.
Dói-me o terror da auto-crítica
Parida da tua língua insensível,
Que já nem me tocava.
Veneno por veneno
Eu nem precisava do seu.

"Perde esse peso.
Arruma essa cara.
Muda essa roupa.
Fala alguma coisa.
Não fale demais.
Queira mais sexo.
Mas não seja puta.
Você deveria emagrecer...
...Por que você nunca come?!"

Definhou por ti meu corpo
Que corpo por corpo
Esse nunca foi seu.

Eu pedia: toca aquela música?
Você preferia afinar o violão.
Você exigia: se mude inteira!
Eu aprendi afinar meu corpo então

Hoje aquela cobrança
Ainda me assombra vez ou outra
E já não rege mais minha vida,
Mas me torce as entranhas de raiva!
Deixei a semente do teu ranço
Tomar meu amor próprio
E germinar o desespero.
E ódio por ódio,
Eu nunca precisei do seu.

Hoje a minha boca expurga
Não só o que me nutre
Mas o hábito que criei
Na tentativa de me encaixar nos seus padrões
Porque nos seus braços, na hora de dormir
Você nunca fez questão de me encaixar.
Mas você dizia que me amava...
E amor, por amor,
Eu nunca precisei do seu.




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Ame seu corpo, ame a si mesma... Se está em um relacionamento abusivo, peça ajuda, livre-se disso. Você merece mais.




18 de jan. de 2016

33m de quarto enorme
Haicai certeira na cama
Sem você enquanto o mundo dorme

17 de jan. de 2016

Lençol

Ai que desgosto,
Me falta o rosto
Do meu querer objeto!
Eu peço: posso?
Deveras lindo,
Clarão divino!
Que coisa é essa
Que é o afeto?
Eu peço: posso?
Já mal arrisco
Sem ti, abismo!
Não tenho fôlego
Ao caminhar.
Eu quero, posso?
Preciso - e logo!
Sozinha nunca
Mais me deitar.

10 de jan. de 2016

Último Ato

Foste tu o sacrifício e não vês?
Que eu sinto, querido, teu ego
Esse teu mais precioso bem
Lá de longe ferido.
Escolho um partido e deixo-te
Assim aos poucos...
Deste jeito porco, desmerecido.
A sordidez que me estapeia a cara
É a que me consome 
Por não ter lavado a alma,
Por não ter dado a chance da calma
No revés da partida sem palavra.

Parado o leão no palco sem plateia,
Não há quem aplauda teu ar bravio.
Perdoa, lobinho, o sacrifício!
Admito covarde o partir da alcateia.
Tão cruel conceder só silêncio, vazio!
Eu que me orgulhava da integridade,
Recolho-me à podridão e ao ofício
Da confissão dos pecados:
Este antecipar, meu vício!
Que causa tanta dor e eu suplico:
Vês que foste tu o sacrifício?
Vês que fiz o feito pelo que sinto?
Se sim perdoa, lobinho!

Perdoa a auto-indulgência inescrupulosa
De esconder o rosto 
Diante da vergonha da inevitabilidade
De te inflamar com minha peçonha!
Sei que entendes o meu partir,
Que te dói meu não ser cautelosa
Com o que vieste a sentir.
Se entendes perdoa, pois o fiz
Com honestidade no coração!
Não me dói o sacrifício, vês?
Minha dor é o punhal no dorso do leão!









9 de jan. de 2016

Sinastria

Fluído sorriso teu na minha flâmula gargalhante
Infantil que sou me envolvo nos teus braços magros,
Verdes: somos jovens ainda
 Nossa liberdade conjunta queima
Como graveto seco, e fósforo ainda que tenro
Risca e alumia a trilha nesse bosque florido
Metade teus rios, simpatia líquida, envolvente.
Metade meu trovão, cortante, mortífero clarão
Pelas árvores soprado é teu carinho terno
Combústivel do meu afeto incendiário
Consumindo tudo em volta
Até cair na tuas águas
No teu fluído sorriso recebendo minha flámula gargalhante
Verdes: somos jovens ainda
Nossa liberdade conjunta queima:
Eu me resfrio na tua alma
Te aqueço com minha essência.