Ainda pingam meus cabelos
Do banho gelado dessa manhã fria,
As gotas caem navalhas sobre os pés
Que se fincam no território morno e seguro
Que é esta toca que é só minha.
Deito no mar que é a cama
Ancoro-me ali,
Onde durmo e deito
E finjo que morri.
Afogo-me nas cobertas,
Enforco-me nos lençóis.
Hoje mais uma vez eu ensaiei
Um sono eterno e justo,
Mas o sol da manhã veio
E com ele imposição algoz:
"Levanta-te, toma um banho,
Esconde mais uma vez esse luto
Pois no teu alvo, enfermo busto
Encontras ainda um belo esteio"
Ainda pingam meus olhos
Diante da tarefa árdua que é cada manhã.
As gotas caem carinhosas nas mãos
Que escrevem o que urge e grita e fere
Para que eu não esqueça jamais
Que eu já caí e me reergui,
Que eu já quis morrer mas vivi.
Quem sabe um dia qualquer
Encontre um motivo para levantar
E sentir vontade de estar aqui.
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