27 de out. de 2015


Seu falar fanho flutuante
e meu olhar desinteressado
calejado
e nós, a banda, os planos:
em cima da prancha
no meio da chuva


Colchão furado etílico pós banho
de água do céu e de sal
um cantor arranhando
um canto qualquer
olho-o de canto
no canto, ausente
    

E assim confortável
em cima da cama
no meio da chuva
nas frestas da alma gritam ventos
que mais são lamúria que apelo
Você sonha
Eu pesadelo.





26 de out. de 2015

Guardado

Para aquela menina que escreve agora linhas tímidas sob o olhar despretensioso de qualquer um que não seja eu, porque eu ouço os gritos dela em cada vírgula, eu vejo sua língua atrás daqueles dentes perfeitamente alinhados, movendo-se querendo ser ouvida, querendo afagar a minha.
Para aquela que se veste com uma pose de mulher impenetrável e com um olhar desinteressado, nebuloso... Mas que não me engana, que não consegue mascarar a doçura e a intensidade dentro daquele peito ardente de paixões, dentre as quais escolheu algumas poucas a dedo para expor ao mundo. 
Para aquela que me lê algumas vezes em caracteres, outras com a ponta dos dedos passeando suaves por sobre as cicatrizes do meu antebraço, uma outra vez com a boca roçando na minha, descobrindo meu sexo... 
Para ela eu registro aqui minha sordidez, meu sincero e torto sorriso acompanhado de um olhar encabulado, peço perdão pela minha tendência à solidão acompanhada, pela dificuldade que tenho em atar com firmeza os laços. Como ela disse eu tenho medo... Medo até mesmo de temer o medo. Eu também tenho minhas poses, minhas máscaras, das quais sei que ela com candura me despiria, como no dia em que dançamos em um inferninho, e que nossas línguas dançaram juntas ao som da sua banda favorita.... Para ela meu mais sincero suspiro, meu olhar de quem admite que seria melhor naquelas mãos tão ternas.
Voltei pra casa um pouco mais vazia
Um tanto mais completa
Talvez porque tudo o que eu ofereço
Você me devolve com maestria
E talvez porque o seu jeito reservado
Combina com meu riso frouxo
Aquele que quase ninguém conhece
Aquele que também vem de alguém sozinha
E que tem medo do escuro
Alguém que dorme bem dez noites por ano
E tem vergonha de mostrar os dentes
Mas que carrega uma nuvem pesada
Que orna bem com seu ar nublado
Essa postura de urso pardo
Cobrindo uma bobice deslavada
De quem protege e deixa livre também
De quem me eleva e sã me mantém
Voltei pra casa um pouco mais vazia
Porque deixei um sorriso sincero
Atrás da sua orelha
Um tanto mais completa também
Porque já faz um tempo você me ensina gostar de mim
E não perde uma uma só chance
De me lembrar de sorrir assim

Visita

Recordo-me de derrubar café no chão
E derrubar os olhos fechados no seu peito
Hoje os fechei quase que o dia inteiro
Que é pra não ver a vista da varanda
Que é pra não sentir o tempo
Eu que aflita nem durmo direito
Descansei a alma
Tive a paz - e calma
De dormir enfim tranquila
Emaranhada no seu cheiro
Faz tão bem ao meu mar inquieto
De olhos fechados ou pessoalmente
Fazer-lhe uma ou outra visita
Na próxima eu prometo
Que o seu soluço não terá sossego
Que eu trarei o café quente e aconchego
Que se eu derrubar eu nem me preocupo
De manhã só vou querer teu corpo inteiro
Um suspense vintage em uma lua leonina qualquer de agosto
O des-gozo de na ponta fria da língua sentir quente o gosto
Romperam enfim os seis meses de tão puro desgosto
Zarparam os botes salva-vidas e eu permaneci
Observei de longe o teu partir e dolorida me reergui
Então agora sou lavradora desta ilha cativa
Imposição marciana de mesmo que ferida permanecer viva
Sob uma lua nova agora eu percorro sorridente outubro
Permeada na proteção da vênus leonina de outro
Que dá o descanso do sono e me faz o rosto rubro
Eu que antes desbravava os meus incertos mares sozinha
Sinto a água agora nos tornozelos, mar manso a perder de vista
Que lugar calmo depois de ti, a existência minha.