25 de fev. de 2016

Tesão Etílico II

Bacardi Big Apple: era esse teu gosto.
Por mais que eu nunca te tenha tocado,
Sempre soube o teu toque...
Até o tecido da tua camiseta velha do Ramones,
Eu sentia.
Sabia com clareza teu gosto
Doce e enjoativo...
Embriagante.
Colocaria-me na ponta dos pés
E o sentiria ardente nos lábios,
Se os meus não já formigassem,
E as pernas bambas bordassem
Súplicas no chão do teu quarto.
Eu te olhava de soslaio, cambaleante,
A gengiva e dentes em êxtase:
A cada gole de Bacardi
Minha boca sentia mais o magnetismo da tua,
O frenesi do teu gosto...
Que eu nunca senti se não no copo.
E nessa orgia sensorial meus olhos pesados
Encontram os teus de ressaca
Escondidos, dissimulados,
Atrás das ondas do teu cabelo sujo.
E eu não te desejaria que não assim: Sujo.
Que não bêbado! Fedendo a Bacardi Big Apple,
Enjoantemente doce.
Eu te sentia na ponta da língua,
Causando-me a náusea do desejo mais forte e impuro,
Com gosto de álcool e derrota.
Covarde que sou!
Do meu corpo só os dedos te conheceram os lábios
Mas eu - ah!!! Eu sim sempre soube o teu gosto!
O teu cheiro asqueroso de ressaca de dia seguinte!
E amei-te.
Amei cada pedaço da tua nojeira
E da tua alma linda de artista...
Inebriada eu senti 
Cada vaporada quente do teu hálito...
Bacardi era o teu gosto,
E eu nunca mais bebi.


22 de fev. de 2016

Pela paz de Narciso

Estou em um chalé sob aquela janelinha;
Meu pé-de-broa apoiado no parapeito,
Aponta para a Noite Estrelada campo-grandense.
Sinto ainda cheiro da grama com orvalho na madrugada,
E o frio era como concreto
Preenchendo tudo que não fosse orgânico,
Ameaçando rachar tudo o que não tivesse calor próprio.
Lembra quantas vezes, já quase não rachou a nós?
Na pontinha do meu dedão uma constelação qualquer
Tu apontas e divagas sobre a vida lá fora:
No espaço, na consciência humana, no traço do teu desenho.
Abro os olhos e volto pro meu apartamento;
Em outra cidade, com bem menos estrelas à vista... tão fria quanto.
"Por quê?" Eu pergunto... "Por que essa viagem toda no tempo agora?"
Maldito Salvador Dalí que me caiu nas mãos hoje.

E caí em mim...

Mais vale o mimo que é lembrança das madrugadas no chalé,
Das conversas intermináveis e filosofias e admiração do meu pé;
Que a mágoa da tua tez rija e olhos cortantes.
Mais vale guardar nossos dias Caeiros,
Que maldizer a sombra de Mefistófeles por trás do nossos contrato.
Eu perdoo. Eu perdoo. Eu perdoo.














Dente de Leão

Cortei-te o caule já na base
Impedindo teu desabrochar
E tuas pétalas ao me ornarem
Caíam tão bem
Que meu gênio não as quis.

Eu sou quem aduba tua terra;
Não sei receber os frutos do plantio;
Eu sou quem aflita erra.
Onde havia flor hoje há só vazio.

Desculpa o vaso seco,
As raízes pútridas...
É que sem o sol não se vive
E eu sou a sombra,
A tesoura
Insensível.
Infértil:
A terra rota.

O Dente-de-Leão
Que morreu no meu jardim
Assassinei sem piedade!
Agora sem flor, sem caráter
Não digo nem que há saudade
Mas ranço ao que restou de mim.