6 de dez. de 2015

Pro Urso

Falo, penso, transpiro morte...
E como se mágica, um suspiro,
Um vulto enorme teu se instala.
Não sei o que há pra além do vulto
Uma vez que mesmo em cores
Vejo-te ainda preto, cor de luto.
Sei ainda menos o por que do lembrar
Acontece que o vazio me enlaça...
E se tem algo na tua alma que eu gosto
É que há aí um silêncio em brasa
Que parece meu nessa tua aura pesada.
És tão gigante... sou inda pequena...
Mas a minha miudez física mascara
Esse expoente e grandioso nada,
Que me consome ainda que serena.
Se questionas um dia minha permanência
Saiba que te guardo um caprichoso zelo,
Que mesmo na ausência da palavra
Minha mão vez ou outra ainda te afaga.
Não que eu lhe tenha amor romântico,
Mas porque reconheço o peso da tua adaga
Não as que coleciona no quarto
Mas a que lembra a mim minha própria chaga.





Com amor e com saudade.

É noite quando o corpo entorpecido deixa a mente falar:
Uivantes revivem as palavras daquele poema português,
Ecoam dentro de mim como o ricochetear de uma bala.
                                                         [Quem dera o fosse!
Entorpecida eu submerjo...  em mim e no sangue em veia
Que corre e que te carrega, que expurgo em vão ensaio
De ver-me despida de laços, coberta de água não turva.
                                                          [E que não lágrima!
É este arrastar dos anos, ou súbito emergir de versos velhos
Algo nesta ponte insubordinada às duras regras do tempo
                                                          [E da morte! Da vida!
Que me cobre e afoga em "mares antes nunca navegados",
De afeto que foi dado somente ao sério patriarca desta casa
                                                    [Portuguesa, com certeza!
Vê? Até meu expurgo corre pela metade, desalinhado...
A mutação que sinto, esta anomalia, este pedaço que falta
Não se honraria cobrindo com palavras, sequer belas flores
                                               [Nem mesmo a terra te cobriu!
Mas confesso, vôzinho... Há noites em que o vazio extravasa
Que o membro pela ceifa da morte tolhido como nunca falta.
E nem sempre é no dia dos meus anos, nem sempre por querer:

Revivo os tempos em que eu era feliz e ninguém estava morto...
Raiva de não lembrar de esquecer o passado roubado na algibeira!