25 de out. de 2016

Mãe África

Caminho no cipó,
Suspensa no vento.
E rodopio destemida: giro, giro, giro
Na ponta dos pés
Com dedos ornados de jóias!
Minha coroa tem sete cores,
Que guiam as canelas
Ritmadas ao passo de Matamba.
Giro, giro, giro
Sem sair do lugar.
Mãe Santa Bárbara me empurra,
Aninha e nina
Sob os olhos ardentes, cautelosos
De meu querido pai Xangô.

A brisa me lambe a testa
E me lembra das terras
De meus avós.

É na beira do riacho
Que eu escorro os olhos.
Expulso o féu nas águas
Das minhas emoções.
Batizo meu corpo,
Morada pulsante da nascente doce
Do amor que vem d´Oxum.
A corredeira se enrola em meus dedos,
Lembrando que acima da lei
Existe o amor.
Ela quem traz no córrego flor,
É em quem afogo todo meu dissabor.

A espuma do rio me refresca o rosto
Lembra da paz lá em Aruanda,
Lembra da terra dos meus avós.

O caboclo me sopra ervas
E traz a peçonha que alerta
Dos males do caminho..
Que já não me enxergam:
Pois sou tutora do seu belo cocar.
A cobra que me enlaça a cintura,
É quem me guarda
No caminho da mata.
Debaixo das folhas,
Oxóssi deu vida pra terra,
E por cima das copas,
Ensinou os pássarinhos cantar.

E eles cantam pra mim,
Que é pra me lembrar do terreiro,
Das ervas, dos ventos, do fogo morno e a água
Da terra dos meus avós.